quarta-feira, 6 de agosto de 2008

POESIA DOS PAGOS

TAPERA

Rancho de barro caído
num canto à beira da estrada;
Algum tempo foi morada
Do velho guasca tropeiro,
Foi pouso de carreteiro
E do índio da pá virada.

Se vê o sinal do palanque,
Do pára-peito e cercado
E um pé de umbu bem criado
Onde se dormia a sesta,
Braço curvado na testa
Sonhando com o passado.

Deixei gravado na casca
A data marcando a era!
Gravar de novo eu quisera
O que deixei no rincão
E tirar de riba do chão
A cicatriz da tapera.

Se vê a estrada da pipa,
O sinal do forno, a figueira
E o toco de uma tronqueira
Que se quebrou numa lida
E a casa grande caída
E o quadro onde foi mangueira.

Pedaço triste do pago
Quando a noite vai chegando
E o gado vem farejando,
Procurando uma pousada,
Lambendo a guincha esfiapada
Que o tempo vai derrubando.

Quando ali passa o gaudério
De noite, com tempo feio,
Quase sempre tem receio
Que ali exista um assombro;
Atira o poncho no ombro
e levanta o pingo no freio.

(Da obra !Deixando o Pago", de João da Cunha Vargas, edição Grupo Habitasul)

Nenhum comentário: