sexta-feira, 17 de outubro de 2008

GREGÓRIO BARRIOS - "O REI DO BOLERO"

(Por Agilmar Machado)

Carmen Jensen Ehrardt, catarinense do Vale do Itajaí, 25 anos, ex-miss Santa Catarina, seria a eleita do cantor Gregório Barrios para viver com ele desde 1966 até 17 de dezembro de 1978, ano da morte do cantor em São Paulo, onde residia.
Tinha Carmen apenas 25 anos e ainda sentia o sabor da vitória no concurso de beleza estadual, quando Gregório Barrios, que desde 1962 já morava no Brasil (tendo trocado inicialmente a Calle Florida, em Buenos Aires, por Copacabana, no Rio, e depois São Paulo). Do primeiro casamento Gregório teve um filho argentino e, do segundo, uma filha, também Carmen.
Nascido como Gregório Barrios Villabriga, na província basca de Bilbao, Espanha, cedo Gregório, mais três irmãos e seus pais emigrariam para a Argentina em 1921, por força das convicções socialistas do seu progenitor.
De família pobre, Gregório começou cedo no labor diuturno e, na Argentina, seria admitido como auxiliar de serviços gerais numa empreiteira de pavimentação de estradas, tendo chegado, por merecimento, a exercer um cargo de chefia,
Nascido com o gosto pelas artes, comumente cantarolava alguns trechos de óperas e até mesmo tangos enquanto trabalhava. O filho de seu patrão, despertado pela extraordinária entonação de voz de Gregório, um dia disse a ele: “Não sei o que você está fazendo aqui, com esta privilegiada maneira de cantar”...
Foi o bastante para despertar em Gregório o interesse em iniciar sua vitoriosa carreira, que o levou ao auge por mais de 40 anos ininterruptos.
Seu começo foi no ano de 1938, quando estreou em programas de rádio em Buenos Aires, concomitantemente levando a sério seus estudos de música sob a supervisão de renomados professores argentinos, com o pseudônimo de Alberto Barrios. Dedicou-se inicialmente a trechos de ópera, passando posteriormente a interpretar tangos clássicos do repertório portenho.
Pouco antes do ano de 1940, finalmente encontrou no bolero sua inigualável vocação artística, adotando esse ritmo definitivamente.
Sempre demonstrando extraordinário apego pelo Brasil, por onde excursionara várias vezes, em 1962 resolveu residir – definitivamente – em nosso país, sem, contudo, deixar de cobrir as Américas e a Europa com sua presença constante.
É de se supor que tenha Gregório recebido forte influência de famosos intérpretes do gênero na época, como Pedro Vargas, Dr. Alfonso Ortiz Tirado, Tito Guizar e o velho e aplaudido tenor mexicano José Mojica, que terminou sua carreira de sucesso em música e no cinema repentinamente, resolvendo ingressar em um convento da ordem franciscana (desde então gravaria somente em favor de obras assistenciais). Mojica, aliás, foi admirado até por Carlos Gardel e o compositor brasileiro Alfredo Le Pera. Foi inspirado nas célebres declamações de Mojica em suas melodias, como “Jurame” e “Maria la O”. Gardel e Le Pera lançariam a canção “El dia que me quieras”, com letra e glosa deste último.
Além dos países em que excursionou, Gregório Barrios – ídolo absoluto do bolero na década de ouro de 50 – percorreu o Brasil de ponta a ponta por muitas vezes.
Lembro de três etapas em que vi Gregório Barrios e tive o prazer de ouvi-lo e aplaudi-lo: certa vez num vôo da Cruzeiro do Sul, entre Curitiba e Florianópolis; a segunda quando tive a honra de apresentá-lo em Laguna (1955) e a derradeira quando, estudando em Santa Maria, passei pelo centro de Porto Alegre. A municipalidade havia inaugurado a nova estação rodoviária por aqueles dias. Ao chegar nas proximidades da mesma, com destino à ponte do Guaíba, uma faixa imensa anunciava a presença de Gregório Barrios na inauguração do Restaurante Gauchão, naquela estação. Isso foi por volta de 1972. Gregório já estava com 61 anos de idade, mas conservava um aspecto muito saudável. Assisti ao espetáculo e pedi a Gregório que interpretasse o belo joropo venezuelano “Alma Llanera”. Educadamente ele pediu desculpas, aduzindo que o número não teria sido ensaiado...
Entendi seu argumento: “Alma Llanera”, que ele gravara por volta de 1945, possuía um tom extremamente alto e, no final, um agudo fenomenal: entendi que o peso dos anos já não lhe permitiriam alcançar tão elevada tonalidade...
Gregório gravou mais de 500 discos 78 rpm e dezenas de LPs, desde os primeiros tempos dos vinis de dez polegadas.
Em meu poder tive cerca de dez preciosos LPs de Gregório, os quais, procurando preservar aquelas relíquias, obsequiei a um amigo lagunense cujo zelo pelas raras coleções é bem mais acurado que o meu. Estão em boas mãos...