quarta-feira, 26 de agosto de 2009

À MEMÓRIA DE NELSON ALMEIDA (FINAL)

Não seria em apenas quatro comentários que se ousaria resgatar a legendária passagem de Nelson Almeida pelo rádio catarinense. Seu caminho foi muito mais longo, sua vida propiciou ensinamentos a muitos iniciantes em rádio, sempre com absoluta correção e competência.
Nelson foi um homem peculiar. Como empreendedor, esteve em três etapas distintas na área da comunicação radiofônica: Rádio Difusora de Laguna, Rádio Araranguá e Rádio Anita Garibaldi, esta, de Florianópolis.
Mas o que se constatou é que, após afastar-se de seu grande triunfo que foi a Rádio Difusora de Laguna, seu entusiasmo foi, aos poucos, arrefecendo.
Sempre tive a impressão de que ele jamais deveria ter deixado a primeira emissora, cuja instalação e manutenção contaram com amigos fiéis e pela qual ele alimentava incontestável orgulho.
Nelson, após vender a Rádio Difusora de Laguna, permaneceu ainda algum tempo providenciando sua transferência para Araranguá, onde já conseguira comprar quase 50% das quotas da ZYT-3 (uma modificação nos estatutos lhe proporcionaria a titularidade da emissora).
Já não foi mais o mesmo. Seguia como sócio da rádio, dificilmente ocupava o microfone. Confiava a gerência comercial ao locutor Asty Pereira; o jornalismo, a Osmar Cook e, posteriormente, a César Machado.
Ingressou no ramo imobiliário adquirindo, com um grupo local, ampla área destinada a um condomínio residencial. Líder nato (e absoluto), não se deu bem tendo de ouvir opiniões de sócios que nem sempre coincidiam com as dele.
Vendeu não somente suas quotas na rádio, como também no empreendimento imobiliário, e se transferiu para Florianópolis. Comprou a Rádio Anita Garibaldi, fundada e de propriedade inicial do popular médico lagunense Julíbio Jupy Barreto.
Levou consigo o jornalista César Machado, a quem já confiara o rádio-jornalismo anteriormente. Na mesma emissora atuaram muitos e reconhecidos valores, dentre os quais os conhecidos jornalistas/radialistas Cyro e Aibil Barreto.
Desde tenra idade Nelson teve um problema físico que o atormentava quando ocorriam contumazes crises: uma anomalia no joelho esquerdo.
Genro do bravo militar Coronel Trujilo Mello, sua esposa D. Flávia (irmã de Osny Melo) acabou viúva após alguns anos.
O idealismo que convertera Nelson Almeida em um verdadeiro mito desde tenra idade ficou como marca indelével para quem teve a grata oportunidade de desfrutar das criativas lições de um homem que, com incrível sensibilidade, nasceu para formar talentos.
Sou particularmente reconhecido à obra deste astro de primeira grandeza no rádio.
Nelson Alves de Paula Almeida há de estar em um bom lugar…

À MEMÓRIA DE NELSON ALMEIDA (III)

Nelson Almeida jamais deixou de transpor barreiras que se antepunham a sua trajetória profissional. Nunca foi de muitos amigos. Tinha sua rodinha mais íntima a quem relatava algumas idéias, sem jamais expor os planos integrais que tinha na cabeça.
Nas décadas de 1950 e 1960 não era tarefa cômoda dirigir uma emissora de rádio. Não havia nem um décimo dos recursos que hoje estão disponíveis, especialmente no concernente à parte técnica. Os transmissores ainda eram dotados de válvulas e, dentre estas, a chamado 813 (ou válvula mãe).
Até os mais céticos apelavam a uma oração ou um pensamento muito positivo para que ela não “queimasse”; se isso ocorresse, sairia pelo ralo o orçamento de quase um mês da emissora, não somente pelo seu custo. É que, sendo rara a sua queima, não estava à disposição para compra a não ser em São Paulo e, na melhor das hipóteses, em Porto Alegre.
Exatamente esse fator levava as emissoras de ondas médias a planejar intervalos vespertinos e também horários mais restritos de funcionamento, pois a vida útil da 813, como de resto todos os demais componentes do transmissor, era restrita (como as lâmpadas de resistência de hoje, que já estão sendo superadas).
Corria o ano de 1949 e a Rádio Difusora de Laguna seguia liderando, absoluta, a audiência no sul catarinense. Um bárbaro crime é perpetrado na cidade. Um médico, sob a alegação de que sua mulher o vinha traindo, sufoca-a na banheira esmaltada onde ela se banhava, na casa onde residiam.
Por se tratar de pessoa altamente integrada à sociedade local, o caso surgiu como uma bomba. Depois de um processo de relativa duração, eis que o Dr. Santiago finalmente senta no banco dos réus.
Nelson Almeida não perdeu tempo. Com a sempre eficaz companhia de Carlos Horn, um verdadeiro aparato de equipamentos foi instalado no Fórum da Cidade (na chamada antiga Câmara de Vereadores).
Anunciado insistentemente pela Difusora durante todos os dias que antecederam o Júri, o sul catarinense ficou prevenido para acompanhar o desenrolar desse acontecimento tão inusitado quanto violento.
Nelson foi pessoalmente fazer a cobertura de todo o transcorrer dos debates entre acusação (Promotoria Pública) e defesa. E nesta, ninguém menos que o mais brilhante jurista de então, o próprio desafeto de Nelson Almeida, Dr. João de Oliveira.
Uma linha própria substituiu a linha telefônica, muito requisitada naquele tempo em transmissões externas. Um dos júris mais longos estava por começar.
E – sem nenhuma dúvida – poucas transmissões no Brasil, envolvendo um só fato, perduraram por tanto tempo. Foram três dias de cobertura ininterrupta desde o Fórum da Comarca.
A astúcia do criminalista João de Oliveira era algo incomum. Levou os jurados a tal ponto de convencimento da inocência de seu constituinte, que este deixou a sala de julgamento sob a tutela do mesmo: absolvido.
Sedimentou-se ainda mais o prestígio e o “poder de fogo” d’ “A Mais Poderosa”, status que ela jamais deixou de ostentar, para orgulho dos lagunenses e profissionais que por ela passaram e jamais a esqueceram.
Carlos Horn, por sua vez, conseguira o “milagre” de manter a emissora três dias no ar, sem que nenhum dano viesse a ser causado ao seu equipamento.
Depois desse dia, o Dr. Santiago deixou a cidade para nunca mais voltar e sem deixar endereço a quem quer que fosse.

À MEMÓRIA DE NELSON ALMEIDA (II)

Em capítulo dedicado a Nelson Almeida em meu livro “História da Comunicação no Sul de Santa Catarina” (relatos de 1831 a 1970), tive a oportunidade de traçar um breve perfil desse extraordinário profissional do rádio.
Nelson, antes de vir para Laguna, teve uma passagem pelo rádio da sua terra natal, Paranaguá (litoral paranaense), bem como de Curitiba, na PRB-2.
Chegou jovem ainda na Terra Juliana e logo iniciou gestões no sentido de implantar um veículo de divulgação. Mas antes de tudo isso, havia um sério problema a enfrentar: como viver em Laguna com os poucos recursos que trouxera?
A solução veio através de seu primeiro e sempre leal amigo, Major Pompílio Pereira Bento, então agente do Lloyd Brasileiro: foi montada uma leiteria no centro (hoje chamado histórico) da cidade e entregue aos cuidados de Nelson.
Mesmo totalmente alheio a sua vocação, o ramo rendeu o suficiente para sua manutenção e amealhar alguma poupança mensal.
Passados alguns meses Nelson já possuía o suficiente para entrar numa pequena mas competente sociedade que viria a surgir: um rudimentar meio de comunicação chamado Rádio Tupã, que nada mais era do que um serviço de alto-falantes, cujas “cornetas” de projeção de som (duas) foram afixadas em postes de locais estratégicos da cidade.
Um sócio imprescindível para isso, foi o saudoso Carlos Rodrigues Horn, rádio-técnico de renome e um apaixonado pelas comunicações. A eles se uniu Erotides Guimarães.
Mantendo Horn sempre a seu lado (e assim o fizeram todos os que se revezaram na direção da Rádio Difusora mais tarde), era meio caminho andado para chegar ao seu projeto final: uma rádio de projeção para o Sul catarinense.
A Rádio Difusora de Laguna – ZYH-6 –, sendo a única no Sul de 1946 até 1948, firmou um conceito tão sólido que continuou sendo uma “dor de cabeça” para os posteriores prefixos instalados na região (especialmente a Eldorado de Criciúma, da era De Patta, e a Rádio Tubá, de Tubarão, da era Annes Gualberto/Edgar Lemos).
Era muito difícil enfrentar a criatividade de Nelson Almeida. Homem que labutou a vida inteira no segmento, dedicando-se apenas a criar e formar excelentes equipes, possuía um tino incomparável para distribuir atribuições a cada um de seus locutores, redatores, apresentadores e outros funcionários, segundo tendências e aptidões de cada um.
Criou o “Picadeiro Político”, programa crítico e ultra satírico, num tempo em que o jornalismo não media muito as palavras quando se tratava de criticar. Uma particularidade interessante: Nelson jamais escreveu um comentário sequer, mas contou – no Picadeiro Político – com a capacidade jornalística de um homem que fez escola e da qual fomos alunos: Osmar Ferreira Cook. De inteligência e cultura prodigiosas, Osmar Cook, após passar (por sua vez) pela escola do brilhante advogado e jornalista, Dr. João de Oliveira, dono do temido semanário Correio do Sul (cujo imponente prédio ainda existe, e muito bem conservado), veio a compor a titularidade de redação do antagonista “Picadeiro Político”.
Milhares de ouvintes aguardavam tanto a tiragem do temerário Correio do Sul, como também as transmissões de eu desafeto, Nelson Almeida, com o seu Picadeiro Político. Essa guerra de ataques diretos e extremamente “salgados” só iria terminar quando Nelson vendeu a rádio e se transferiu para Araranguá.

À MEMÓRIA DE NELSON ALMEIDA - (I)

Uma das personalidades mais marcantes do rádio catarinense da década de cinqüenta foi, sem dúvida, Nélson Alves de Paula Almeida, ou simplesmente Nelson Almeida, como era amplamente conhecido, especialmente no grande sul catarinense e, depois, também em Florianópolis.
Em 1954, em Laguna, o conheci e, quando iniciei minhas atividades na Rádio Difusora, Nélson e Aryovaldo (meu mano) já providenciavam a transferência da concessão da emissora – vendida por Nélson - a um grupo do antigo PSD (Partido Social Democrático), tendo como principal sócio o então deputado federal lageano, Joaquim Fiúza Ramos, irmão de Nereu, Celso e Vidal Ramos. Era procurador deste o saudoso Major Pompílio Pereira Bento, na época Gerente do Loyd Brasileiro, empresa estatal de navegação de cabotagem.
E foi em função disso que Nèlson e Aryovaldo seguiram, em 20 de agosto daquele ano para o Rio de Janeiro, então Capital Federal. Viajaram pela Cruzeiro do Sul, cujos aviões (Douglas DC-3) pousavam no aeroporto local e com a qual a Rádio Difusora Possuia convênio (passagens X publicidade).
Instalados no Hotel Itajubá (Cinelândia), uma espécie de “quartel general” de catarinenses no Rio. Além de freqüentes contatos com Joaquim Ramos, que residia na então Capital Federal, ambos também contaram com a participação do representante da emissora, Alceu N. Fonseca, para que este os ajudassem na tramitação da documentação junto às repartições competentes.
No dia 23, véspera da aprazada volta à Laguna, a dupla não deixou por menos: à noite, resolveu visitar as mais caras casas do centro sofisticado, fazer compras em luxuosas casas, e “estourar” o que lhes restara de dinheiro, resguardando apenas o suficiente para o hotel e algumas despesas com táxi, lanche no aeroporto e outros pequenos compromissos.
No dia posterior, levantaram radiantes, embora com os bolsos quase a zero e foram até a portaria para ordenar a descida da bagagem e a chamada do táxi.
Ai veio o inesperado problema, muito maior do que ele pudessem supor!
Ao porem a cara na porta do Itajubá o cenário era aterrador: canhões, tanques, centenas de soldados fortemente armados! O Exército nas ruas!
Getúlio dera fim à própria vida naquela madrugada e tudo estava absolutamente bloqueado: ninguém saia sequer da quadra onde estavam.
O gerente do Hotel Itajubá, embora franqueando hospedagem por mais dias, graças a intercessão de Alceu Fonseca, no entanto não iria “subvencionar” outras despesas fora do estabelecimento!
O dinheiro super curto e a situação de sitiados que viviam obrigou-os a tomar outras atitudes, dentre estas passar a massas – e somente massas – na conhecida Espeguetilândia, que ficava situada exatamente defronte ao Itajubá.
E se empanturraram de espaguete durante todo o tempo em que durou a presença de tropas nas ruas. Ao chegarem em Laguna, relutaram em contar esse detalhe, mas afinal acabaram por contar a baita baianada que experimentaram…

Á MEMÓRIA DE NELSON ALMEIDA - I

DE CARMEN PATRÍCIA, FILHA DE GREGÓRIO BARRIOS

Comentei, tempos atrás, em Caros Ouvintes, ao elaborar matéria sobre a trajetória de Gregório Barrios “O Rei do Bolero”, muitos aspectos da vida profissional e dos contatos que mantive com o grande artista espanhol, casado com uma catarinense.
Sem dúvida nenhuma, embora de nacionalidade hispânica, Gregório foi o mais difundido, conhecido e admirado intérprete do bolero mexicano de todos os tempos.
O título da matéria é (vide arquivo deste site): “Gregório Barrios - O rei do bolero”, ornamentando-a, ao final, com uma de suas mais notáveis interpretações: o joropo venezuelano “Alma Llanera”.
Foi recebida uma resposta. Sem sua autora se identificar, a mensagem deixava muito a supor que havia partido de sua filha brasileira, Carmen (mesmo nome de sua mãe), por ter também o sobrenome Barrios e um prenome destacado apenas por uma inicial (E), porém correspondente ao sobrenome de sua mãe catarinense, Carmen Ehrhart (depois, Barrios).
Como teve a gentileza de deixar seu e-mail, não titubeei em manter contato e, com efeito, acabei descobrindo que se tratava realmente da filha do grande Gregório Barrios.
Trocamos os primeiros correios eletrônicos e foi por esse meio que soube muito mais: Gregório está sendo lembrado em sua vitoriosa carreira e tournées são realizadas lembrando suas imortais criações. A voz masculina - nos atuais espetáculos - é de um cantor argentino e uma voz feminina e certamente tão maviosa quanto a do pai, é da própria Carmen Patrícia E. Barrios!
A ex-Miss Santa Catarina, Dona Carmen (depois senhora Gregório Barrios), está hoje com 66 anos… Bem mas isso a própria Carmen vai contar mais adiante…
Para satisfazer a curiosidade dos velhos e fiéis fãs de Gregório Barrios - O rei do bolero, eis abaixo meu e-mail a Carmen (filha) e sua amável resposta:
“Patrícia: pelo que posso supor, tendo o mesmo nome da filha brasileira de Gregório Barrios e o mesmo sobrenome, prenome (E) correspondente ao da esposa catarinense do cantor, estou mantendo contato com a própria. Tenho interesse em reviver a trajetória de Gregório, especialmente porque minha especialidade literária está ligada à história, às artes e às comunicações. Espero que possamos seguir em contato. Desculpe a demora em responder, mas tenho múltiplos contatos durante o dia e acima de tudo, dificilmente retorno a ver matérias antigas que escrevo. Por casualidade fui buscar a de Gregório que está hoje editada na Argentina, Holanda, Suíça e, desde ontem (quando encontrei tua mensagem no site Caros Ouvintes) também no mais concorrido blog do país: o de Luis Nacif. Aguardo retorno. Agilmar Machado".
“Boa tarde Agilmar: Sim o “E” é o da minha mãe, significa Ehrhardt, estou com 32 anos e minha mãe com 66 anos. Bom senti vontade de verificar vários sites que falam sobre meu pai, constatei que há muitos erros sobre a vida dele, então juntamente com pessoas amigas estamos fazendo um site oficial e estou escrevendo um livro que conta a trajetória dele, e espero que este ano daremos inicio a turnê em homenagem a ele, onde terá um cantor argentino interpretando as musicas cantadas por ele, convidados, e eu cantando uma música dele… Até mesmo este fim de semana foi muito especial para mim, pois recebi a visita de minha prima, que era afilhada de meus pais, até por um pedido especial de meu pai quando minha prima nasceu ele pediu para minha tia dar o nome do pai dele que se chamava Patrício; então quando nasceu e era uma menina ficou sendo Patrícia; e em 2007 minha prima teve um filho que é meu sobrinho, e tem o nome de Gregório, que ela quis homenagear meu pai. E meu nome, por ter nascido um ano depois, ficou o primeiro de minha mãe o segundo de meu avô. Fiquei muito gratificada pelo seu reconhecimento por ele; qualquer interesse volte a me escrever. Boa semana! Carmen Patrícia Ehrhardt Barrios”
“Estimada Patrícia: recebi - com muita emoção pela admiração imorredoura que tenho pela obra artística de Gregório - teu amável e-mail. Estou te remetendo cópia de matéria que deverá ser editada em www.carosouvintes.org.br que mostra que a arte de Gregório está sendo continuada por sua querida descendente. Com a devida antecedência, desejaria ser informado sobre todos os programas de turnês a serem elaborados e produzidos, e locais onde serão apresentados, pois assim poderei dar uma ampla cobertura virtual através de sites de amplo alcance e mensagens individuais. Agradeço-te e me orgulho muito de teres não somente seguido os passos do inesquecível Gregório Barrios, mas também recordá-lo em livro. Teu pai é IMORTAL. Considere-me teu Amigo desde já e para sempre. Agilmar Machado”