quarta-feira, 26 de agosto de 2009

À MEMÓRIA DE NELSON ALMEIDA (III)

Nelson Almeida jamais deixou de transpor barreiras que se antepunham a sua trajetória profissional. Nunca foi de muitos amigos. Tinha sua rodinha mais íntima a quem relatava algumas idéias, sem jamais expor os planos integrais que tinha na cabeça.
Nas décadas de 1950 e 1960 não era tarefa cômoda dirigir uma emissora de rádio. Não havia nem um décimo dos recursos que hoje estão disponíveis, especialmente no concernente à parte técnica. Os transmissores ainda eram dotados de válvulas e, dentre estas, a chamado 813 (ou válvula mãe).
Até os mais céticos apelavam a uma oração ou um pensamento muito positivo para que ela não “queimasse”; se isso ocorresse, sairia pelo ralo o orçamento de quase um mês da emissora, não somente pelo seu custo. É que, sendo rara a sua queima, não estava à disposição para compra a não ser em São Paulo e, na melhor das hipóteses, em Porto Alegre.
Exatamente esse fator levava as emissoras de ondas médias a planejar intervalos vespertinos e também horários mais restritos de funcionamento, pois a vida útil da 813, como de resto todos os demais componentes do transmissor, era restrita (como as lâmpadas de resistência de hoje, que já estão sendo superadas).
Corria o ano de 1949 e a Rádio Difusora de Laguna seguia liderando, absoluta, a audiência no sul catarinense. Um bárbaro crime é perpetrado na cidade. Um médico, sob a alegação de que sua mulher o vinha traindo, sufoca-a na banheira esmaltada onde ela se banhava, na casa onde residiam.
Por se tratar de pessoa altamente integrada à sociedade local, o caso surgiu como uma bomba. Depois de um processo de relativa duração, eis que o Dr. Santiago finalmente senta no banco dos réus.
Nelson Almeida não perdeu tempo. Com a sempre eficaz companhia de Carlos Horn, um verdadeiro aparato de equipamentos foi instalado no Fórum da Cidade (na chamada antiga Câmara de Vereadores).
Anunciado insistentemente pela Difusora durante todos os dias que antecederam o Júri, o sul catarinense ficou prevenido para acompanhar o desenrolar desse acontecimento tão inusitado quanto violento.
Nelson foi pessoalmente fazer a cobertura de todo o transcorrer dos debates entre acusação (Promotoria Pública) e defesa. E nesta, ninguém menos que o mais brilhante jurista de então, o próprio desafeto de Nelson Almeida, Dr. João de Oliveira.
Uma linha própria substituiu a linha telefônica, muito requisitada naquele tempo em transmissões externas. Um dos júris mais longos estava por começar.
E – sem nenhuma dúvida – poucas transmissões no Brasil, envolvendo um só fato, perduraram por tanto tempo. Foram três dias de cobertura ininterrupta desde o Fórum da Comarca.
A astúcia do criminalista João de Oliveira era algo incomum. Levou os jurados a tal ponto de convencimento da inocência de seu constituinte, que este deixou a sala de julgamento sob a tutela do mesmo: absolvido.
Sedimentou-se ainda mais o prestígio e o “poder de fogo” d’ “A Mais Poderosa”, status que ela jamais deixou de ostentar, para orgulho dos lagunenses e profissionais que por ela passaram e jamais a esqueceram.
Carlos Horn, por sua vez, conseguira o “milagre” de manter a emissora três dias no ar, sem que nenhum dano viesse a ser causado ao seu equipamento.
Depois desse dia, o Dr. Santiago deixou a cidade para nunca mais voltar e sem deixar endereço a quem quer que fosse.

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