quarta-feira, 26 de agosto de 2009

À MEMÓRIA DE NELSON ALMEIDA (II)

Em capítulo dedicado a Nelson Almeida em meu livro “História da Comunicação no Sul de Santa Catarina” (relatos de 1831 a 1970), tive a oportunidade de traçar um breve perfil desse extraordinário profissional do rádio.
Nelson, antes de vir para Laguna, teve uma passagem pelo rádio da sua terra natal, Paranaguá (litoral paranaense), bem como de Curitiba, na PRB-2.
Chegou jovem ainda na Terra Juliana e logo iniciou gestões no sentido de implantar um veículo de divulgação. Mas antes de tudo isso, havia um sério problema a enfrentar: como viver em Laguna com os poucos recursos que trouxera?
A solução veio através de seu primeiro e sempre leal amigo, Major Pompílio Pereira Bento, então agente do Lloyd Brasileiro: foi montada uma leiteria no centro (hoje chamado histórico) da cidade e entregue aos cuidados de Nelson.
Mesmo totalmente alheio a sua vocação, o ramo rendeu o suficiente para sua manutenção e amealhar alguma poupança mensal.
Passados alguns meses Nelson já possuía o suficiente para entrar numa pequena mas competente sociedade que viria a surgir: um rudimentar meio de comunicação chamado Rádio Tupã, que nada mais era do que um serviço de alto-falantes, cujas “cornetas” de projeção de som (duas) foram afixadas em postes de locais estratégicos da cidade.
Um sócio imprescindível para isso, foi o saudoso Carlos Rodrigues Horn, rádio-técnico de renome e um apaixonado pelas comunicações. A eles se uniu Erotides Guimarães.
Mantendo Horn sempre a seu lado (e assim o fizeram todos os que se revezaram na direção da Rádio Difusora mais tarde), era meio caminho andado para chegar ao seu projeto final: uma rádio de projeção para o Sul catarinense.
A Rádio Difusora de Laguna – ZYH-6 –, sendo a única no Sul de 1946 até 1948, firmou um conceito tão sólido que continuou sendo uma “dor de cabeça” para os posteriores prefixos instalados na região (especialmente a Eldorado de Criciúma, da era De Patta, e a Rádio Tubá, de Tubarão, da era Annes Gualberto/Edgar Lemos).
Era muito difícil enfrentar a criatividade de Nelson Almeida. Homem que labutou a vida inteira no segmento, dedicando-se apenas a criar e formar excelentes equipes, possuía um tino incomparável para distribuir atribuições a cada um de seus locutores, redatores, apresentadores e outros funcionários, segundo tendências e aptidões de cada um.
Criou o “Picadeiro Político”, programa crítico e ultra satírico, num tempo em que o jornalismo não media muito as palavras quando se tratava de criticar. Uma particularidade interessante: Nelson jamais escreveu um comentário sequer, mas contou – no Picadeiro Político – com a capacidade jornalística de um homem que fez escola e da qual fomos alunos: Osmar Ferreira Cook. De inteligência e cultura prodigiosas, Osmar Cook, após passar (por sua vez) pela escola do brilhante advogado e jornalista, Dr. João de Oliveira, dono do temido semanário Correio do Sul (cujo imponente prédio ainda existe, e muito bem conservado), veio a compor a titularidade de redação do antagonista “Picadeiro Político”.
Milhares de ouvintes aguardavam tanto a tiragem do temerário Correio do Sul, como também as transmissões de eu desafeto, Nelson Almeida, com o seu Picadeiro Político. Essa guerra de ataques diretos e extremamente “salgados” só iria terminar quando Nelson vendeu a rádio e se transferiu para Araranguá.

Nenhum comentário: