sábado, 30 de agosto de 2008

AL NETO (Afonso Alberto Ribeiro Neto) IV

A VACA MECÂNICA:

As ligações de Al Neto com pessoas e autoridades das mais elevadas esferas nacionais e internacionais eram notórias.

Personalidades das mais ilustres o visitavam freqüentemente.

Lá conheci muitos nomes de grande destaque político, financeiro, social e de muitos outros meios da vida brasileira de várias épocas, bem como do exterior.

Embora Al Neto tivesse, além da estância, uma confortável residência no centro urbano de Lages, onde permanecia sua esposa, ele dificilmente se detinha em seu endereço “da cidade”.

Discordo de quem o qualificou (ou qualifica) de esnobe: ele apenas selecionava, sem tolerância alguma, suas amizades (pouquíssimas na cidade).

Não creio ser esnobe quem, como ele, era freqüente presença em minha casa, localizada à Rua Castro Alves, um pouco além da Praça Joca Neves.
Não era uma casa de luxo, apenas confortável e de tamanho regular.

A primeira vez em que ele lá esteve, conversamos na sala de visitas, uma sala frontal que tinha, de um lado meu escritório e, de outro, a garagem, que consistia num prolongamento da própria cobertura geral da casa.

Não sei por quê, Al Neto mostrou desejo de conhecer as demais dependências. Percorremos a sala de jantar, a cozinha, dois quartos amplos e, na porta de trás, ele divisou uma edícula onde estava situada – de um lado – uma despensa grande e, de outro, uma churrasqueira e um vão aberto com algumas cadeiras de ferro batido, outras mais toscas e... uma cadeira de balanço do mais simples modelo que já conheci (desde os tempos do meu velho pai): era de longarinas com encaixes inferiores para “modular” a altura da reforçada lona que a envolvia.

Al Neto olhou a cadeira e sentenciou: esta vai ser minha cadeira doravante, todas as vezes em que eu aqui vier. E se acomodou nela, espichando o braço para alcançar a cuia de chimarrão que havia acabado de ser cevado. Desde a primeira vez, vislumbrando dali o Morro do Posto, passou a ficar por tempo indefinido trocando idéias e chimarreando...

Por aí se observa que sua personalidade marcante se encantava com coisas simples e muito diferentes do que ele desfrutava em sua estância.

Voltando ao tema inicial, um dia Al Neto me telefonou (para o gabinete), convidando-me para estar na estância para o almoço. Fui, como de costume, no traje em que me encontrava, pois sempre estava preparado para uma solenidade qualquer, requisitado ou não pelo Juarez.

Ao chegar à estância, deparei-me com um ilustre convidado de Al Neto, que fora passar ali alguns dias. Estava acompanhado da esposa que, assustadoramente, parecia sua irmã gêmea, tal era sua semelhança com a ilustra dama.
Pois a visita de Al Neto era, nada mais, nada menos que o Almirante Augusto Hamann Rademaker Grünevald, então vice-presidente da República.(e sua esposa). Viera passar alguns dias de férias com o seu amigo de longa data, Al Neto.

Na parte posterior da área frontal da estância, havia o setor de produção de sêmen charolês, como já foi dito. O Almirante perguntava muito, sobre os vários aspectos que envolviam a produção de sêmen. De repente o almirante pôs os olhos sobre uma fictícia criatura cuja pele vistosa havia sido uma vaca um dia.
O couro envolvia uma armação reforçada de ferro e, para quem olhava meio de repente, era uma vaca perfeita.

O almirante logo foi perguntando: “Al Neto, aqui na serra também brincam de boi-de-mamão, como no litoral catarinense (ele havia sido, quando capitão, titular da Capitania dos Portos da Laguna, quando conheceu os costumes e tradições litorâneas)???

Al Neto, com sobriedade absoluta, respondeu: “Não, presidente, esta é a vaca mecânica que, coberta pelo reprodutor, tem seu sêmen colhido em tubos de laboratório, diretamente do touro. É uma operação que utiliza somente a vaca mecânica, o touro e um serviçal que fica em seu interior na hora “H”..."

O almirante Rademaker jamais esqueceu isso. Quando íamos a Brasília, após uma amizade que se formara através de Al Neto, fazíamos do gabinete do vice, no edifício das Pioneiras Sociais, centro da Capital Federal, o nosso ponto de referência. Até porque seu chefe de gabinete era catarinense de Itajaí.

Ao chegar ao gabinete e notar nossa presença, além das cortesias de praxe, buscava um álbum de fotos que Al Neto tivera o cuidado de lhe dar e, nas páginas onde estava a “vaca mecânica”, detinha-se e soltava gostosas gargalhadas, exclamando: “Mas esse Al Neto tem cada uma....”

(continua)



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