domingo, 31 de agosto de 2008

AL NETO (Afonso Alberto Ribeiro Neto) (V)

Como estudioso e perfectivo que sempre foi, Al Neto vislumbrava com frio realismo a dimensão de qualquer problema e, para solucioná-lo, tinha sempre em mira a mais eficaz, lógica e racional estratégia.

Um dia comentei com ele que vinha tendo alguma dificuldade com o método que adotei para a distribuição dos informativos que minha equipe reproduzia e enviava aos órgãos de imprensa, rádio, TVs e líderes comunitários. Isso, porque não tinha meu pessoal uma estatística quanto à receptividade da matéria que emitíamos diariamente, retratando os trabalhos administrativos.

Sem rodeios, a guisa de resposta, fez-me uma indagação que achei – à primeira vista – desconcertante: “Machado, quantas vezes jogaste meu comentário no lixo quando trabalhaste em rádios e jornais?”.

Procurei “manter a linha”, porém retrucando com firmeza e sinceridade: “Dr.Al Neto, sua pergunta deve ter um fundamento muito lógico e certamente é fruto de uma experiência ida e vivida em sua longa caminhada profissional.
Pois na verdade, como sempre compus equipes consideradas de bom padrão, invariavelmente achávamos que a produção da equipe por nós composta, sem apelar para matérias de terceiros, por todos os tempos conotou a nossa marca. Redigíamos um jornal falado de meia hora, em menos de hora e meia ou duas horas; um comentário local ou regional de cinco minutos, em não mais que meia hora, por profundo que fosse o tema...”
Ele atalhou: “Sua resposta, muito bem colocada, diz tudo: você foi dos que jogaram minhas malas-diretas no cesto de lixo. Joguei com esse risco por muitos anos, especialmente quando remetia os primeiros exemplares de meus trabalhos a um determinado órgão de divulgação. Havia redatores que não aceitavam aquele “rocambole” de várias laudas escritas e nem sequer abriam para conhecer o conteúdo... Mas eu continuava remetendo, até que – lá um dia – o redator de plantão estivesse possuído de uma “indisposição” (preguiça!) natural... Então ele resolvia finalmente ver o que havia naquele calhamaço que semanalmente chegava as suas mãos, quando ele, mirando o lixo, ainda afinava os ouvidos para ver o toque do “rolinho” no fundo da cesta... Então, lia, achava interessante e, como qualquer outro na mesma situação, passava a analisar o material e publicá-lo constantemente... Experimente isso, meu caro secretário: não desista jamais. Continue remetendo mil exemplares, dos quais mais da metade será nos primeiros meses simplesmente desperdiçada... É uma espécie de “aplicação a médio prazo, entendes? Bem, mas agora vamos ao chazinho da tarde, senão os passarinhos vão acabar chegando antes de nós sob o flamboyant...”

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Naquele mesmo fim de tarde voltamos à sala principal da casa da estância, a cuja direita ficava a rica biblioteca e escritório de Al Neto.
Os móveis eram invariavelmente pesados, de cor escura e havia muitos objetos por todos os lados. Ele observava que eu sempre olhava, detidamente, tudo aquilo sem nada exteriorizar e neste dia respondeu à minha curiosidade: “Há muito móvel centenário por aqui, desde os tempos dos meus avós. No entanto, cada coisa que é aqui posta tem uma utilidade prática ou um sentido sentimental para nossa família...” e olhou à parede posterior, onde estava a tela retratando sua saudosa mãe...

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