terça-feira, 26 de agosto de 2008

AL NETO (AFONSO ALBERTO RIBEIRO NETO (II)

(Por Agilmar Machado)



“NOS BASTIDORES DO MUNDO”, comentário internacional versando sobre política, economia, finanças e atualidades, marcaram para a história do jornalismo latino-americano o nome de AL NETO.

Com sua voz possante e grave (no rádio e TV) não somente apresentou-os de forma impecável durante os anos do pós-guerra, como também sua produção cotidiana teve ampla difusão através dos mais conceituados veículos da imprensa, rádio e televisão, a exemplo da BBC de Londres, respeitáveis jornais de circulação global e veículos de menor audiência (rádios) e circulação (até semanários) nos mais recônditos rincões brasileiros).

Antes de travar amizade com esse mito do jornalismo, muitas vezes recebemos – em jornais e rádios onde atuamos – o seu “Nos Bastidores do Mundo”.

Jamais vinha só: com o famoso comentário dezenas de notas noticiosas.

O método da mala-direta adotado por Al Neto era peculiar: tudo vinha devidamente personalizado, embalado e etiquetado de forma cuidadosa.

Assim que a mim coube assumir a Secretaria de Turismo e Divulgação de Lages, como administrador de empresas turísticas (UFSM) e jornalista, ao inicio do Governo Juarez Furtado, em 1973, logo apareceu, no monumental e centenário prédio da Prefeitura, aquele cidadão cuja presença e postura impunha natural respeito: era AL NETO.

Já era conhecido de Juarez, porém, fora cumprimenta-lo pela posse e conhecer seus assessores, na maioria escolhidos entre especialistas em cada um dos setores administrativos preconizados pelo prefeito para realizar uma administração que correspondesse às suas expectativas e dos munícipes.

Em meu gabinete deteve-se.
Conversei por muito tempo, como o ilustre visitante que, parecia, fora sondar minha capacidade de gerir as atribuições que me estavam sendo confiadas, porém de forma sutil e muito discreta, como discretos eram todos os seus atos.

Ao final de uma palestra que se tornou descontraída, formulou um convite: visitar sua estância e lá almoçar.

Dia e hora aprazados e lá estávamos, após recebidos de porteira aberta por seu principal serviçal, com votos de boas vindas.

Desde aquela majestosa entrada, tudo passou a me impressionar: um gigantesco “5 em flor” sobre o pórtico de acesso.

Dali em diante uma confortável estrada particular cercada de taipas que mais pareciam de pedra polida: alinhadas com perfeição e, sobre estas, uma calha seguida na forma de floreiras, carregadas de belas flores de todos os matizes.

Jamais havíamos constatado tanto capricho e perfeição no que julgávamos ser apenas uma fazenda qualquer.

Nos verdejantes campos laterais, arvores se sucediam, algumas (julgamos) centenárias, mas perfeitas e viçosas.


Finalmente vi à minha frente uma imensa garagem onde os veículos se alinhavam impecavelmente limpos. Fui convidado a deixar ali meu carro.

À direita, o deslumbramento da casa da estância com seus amplos alpendres, tendo à frente uma gleba descomunal de pura grama, onde divisamos a figura de um vistoso cavalo puro sangue inglês e, por todos os lados, pássaros em profusão.

Agenda em mãos, o mordomo da casa veio até o portão, desejando-me boas vindas e convidando-me a “passar” (entrar).

Al Neto nos esperava no alpendre que mais parecia um imenso espelho ao olharmos para o chão.

Ali estavam postas duas confortáveis poltronas e uma mesa retangular de ébano.

Logo ao sentarmos e entabularmos conversa alguns pássaros, parecendo vir nos cumprimentar, pousaram no piso luzidio.

Um deles “aterrissou” no meu ombro esquerdo.

Lembro das palavras de Al Neto: “Aqui a vida está presente em toda parte... Veja que recepcionista garboso veio te dar as boas-vindas...”

Naquele santuário a convivência era assim mesmo: natural, sem artificialismos de espécie alguma.

Nosso cicerone novamente sentenciou: “Temos aqui todas as espécies da natureza da região, sem que sejam feridos seus espaços e seus direitos (que são mais antigos do que os nossos)”.

(continua)

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