quarta-feira, 20 de agosto de 2008

AOS MEUS PÓSTEROS

HISTÓRIA DE UMA VIDA (II)

O Grupo Escolar David do Amaral ficava localizado no final da Avenida Getúlio Vargas (Araranguá), quando esta se prolongava somente até a descida para o bairro Urussanguinha, na parte alta da cidade.

Ali iniciei meus estudos primários e depois complementar.
Concomitantemente entrei para o Grupo de Escoteiros, começando como "lobinho", pois não chegara ainda aos oito anos de idade.
Depois das aulas havia duros treinamentos, tendo como instrutor, Alyrio Silva, e Carlos Hugo Stokler de Souza (filho do então interventor municipal, Tenente Rui Stockler de Souza e de dona Ondina), como monitor.

Não bastassem todas essas atividades, a mim cumpria "fazer as voltas" de casa (visto que dois anos depois de mim nascera uma menina) : pela manhã, padaria do Zé Guidi e Açougue do Quirino, antes de ir para a aula. No período da tarde, papai me incumbia de "passar" os telegramas e postar cartas na agência dos Correios e Telégrafos (com seu Janga ou seu Mingote), além de comprar selos para suas petições e demais documentos, na coletoria cujo titular era um velho italiano chamado Santi Vaccari.

Tudo isso não me impedia, ainda, de desenvolver meus projetos particulares, ao completar oito anos.

Certo dia cheguei em casa com uma velha bicicleta Wanderer (alemã), aro 26, em sofrível estado (pois já havia sido encostada há muito tempo no "aluguel" de bicicletas de Elane Garcia, depois de "britada" por centenas de clientes).
Papai, que não dava moleza e foi logo perguntando de quem era "aquilo".
Eu, extremamente orgulhoso, enchendo o peito, retruquei: "É minha"!
Entre meio abismado e desconnfiado, o "velho" continuou sua implacável "inquisição": "Como sua? Com os trocados que você recebe por semana, nunca conseguiria comprar isso ai! Explique-se melhor.
Não tive como esconder e abri o jogo para o "velho", tirando de uma sacola um macacão de mecânico besuntado de óleo e pó: "estou há um mês trabalhando nas oficinas da Transportes Araranguaense (empresa de Apolônio Ireno Cardoso, Bernardino e Ari Máximo da Silva, que detinha as linhas de ônibus interioranas, posto de gasolina (Texaco), ambos os setores dirigidos por Osvaldo Zin; fábrica próppria de carrocerias dirigida por um alemão chamado Urbano, além de uma imensa oficina mecânica de serviços gerais, onde eu trabalhava (privilegiadamente) ao lado de Pedro Laurindo, na seção de recondicionamento de motores (minha paixão, até o mano Ariovaldo me levar para a Rádio Eldorado de Criciúma, em 1949.
O "velho" estava estático, porém, com um semblante de orgulho com o que constatava, embora não fosse exatamente aquela vida que ele desejasse para seus filhos.
Comecei esmerilhando válvulas e, durante os anos que se seguiram, passei a conhecer muito de motores e mecânica em geral.
Pedrinho Laurindo era uma sumidade em sua especialidade, tendo inclusive rejeitado convite da Ford para montar motores em São Paulo!

Pagavam-me 500 "pilas" por mês. Meu primeiro mês de trabalho já acabara aplicado na velha Wanderer que me proporcionou mais incômodos do que prazeres...

Um comentário:

NOSSO TEMPO - Agilmar Machado disse...

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Grato,
Agilmar